Na noite da última quinta-feira dia (24/04/2025), foi realizada na Câmara Municipal audiência pública sob o tema Desafios da prática de artes marciais em Alagoinhas, de autoria do vereador Thor de Ninha (PT), contando com representantes do governo municipal e do segmento, como professores e atletas. No discurso inicial do evento, o parlamentar tratou sobre a importância de discutir as demandas imediatas dos esportistas, mas também do papel que tal prática desempenha atualmente na sociedade.
“Falamos do papel transformador que o esporte desempenha, sobretudo em um tempo em que muitos jovens enfrentam crises emocionais, influenciados por telas e algoritmos que moldam comportamentos”, afirmou Thor de Ninha. Em seguida, destacou que a arte marcial pode trazer disciplina, equilíbrio e autodomínio, valores milenares que podem ajudam a resgatar o controle sobre si mesmo. “Isso gera impacto direto na saúde pública, na educação, na prevenção da violência. Por isso, discutir estratégias para garantir recursos e políticas públicas para o esporte é uma necessidade coletiva – e deve começar aqui, na Casa do Povo”, ressaltou.
Em seguida, os membros da mesa tiveram oportunidade de se pronunciar, quando Iraci Gama, presidente da Fundação que recebe o seu nome, e ex-secretária municipal de Cultura, Esporte e Turismo, tratou sobre a subvalorização da pasta que abarca o conjunto das artes marciais em Alagoinhas. “Quando comparamos os recursos desta secretaria com o de outras percebemos a distância imensa, pois quando se discute orçamento não há consideração de que o trabalho com esporte também engloba a educação e saúde”, declarou.
Representando a atual gestão da Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo (SECET), o diretor Erivaldo Silva Souza tratou sobre o programa Bolsa Atleta, previsto por lei no município, e que recebeu uma emenda coletiva da Casa Legislativa, de R$ 200 mil, além de outros R$ 100 mil ao paradesporto. Segundo ele, o programa está prestes a ser implementado e não se restringe apenas aos atletas. “O Bolsa Atleta variará de 300 reais até um salário-mínimo, contemplando também técnicos e equipes de destaque”, afirmou. “O valor pode ser gasto com médico, remédios, passagens, hospedagem, entre outros”.
O vereador Cláudio Abiúde (Republicanos) rememorou as dificuldades de sua trajetória como músico profissional em precisar custear as viagens para traçar um paralelo com os desafios que os atletas precisam enfrentar para disputa de campeonatos em outras localidades. “Sofri muito enquanto músico. Tive que viajar demais para poder mostrar o meu trabalho fora. E tudo, sim, foi do bolso, assim como vocês, atletas”, relatou. O parlamentar ainda citou a atuação da SECET, reconhecendo os limites orçamentários enfrentados e a criatividade na gestão dos recursos.
Rafaela Rabelo, professora de Muay Thai no CT Dragões e membro da VIP Combat, compartilhou sua experiência pessoal como atleta que teve de representar Salvador em competições por não contar com o apoio da própria cidade. Emocionada, ela destacou que hoje luta pelos seus alunos, muitos dos quais encontraram no esporte uma forma de superação de realidades marcadas por ansiedade, depressão e até envolvimento com drogas. “O esporte não é passatempo. É profissão. E aqui temos gente de sangue, com dom, com garra, e que precisa de apoio para crescer”, declarou.
Professor de Jiu-Jitsu, Everton Luiz, da Gracie Barra Alagoinhas, reforçou a importância do suporte para os jovens atletas. Com 25 anos dedicados ao Jiu-Jitsu, ele salientou o impacto social da prática esportiva e o sacrifício das famílias que tentam manter os filhos nos treinos e em competições, muitas vezes com recursos limitados. “São crianças com rotinas duras de treino, que já são exemplos para nossa cidade. Mas falta incentivo para que mais atletas possam participar de grandes campeonatos e tenham suas vidas transformadas pelo esporte”, lamentou.
Por sua vez, Norbson Castro, da Academia Nintai Karatê, apontou a necessidade de um olhar mais amplo sobre as dificuldades do dia a dia enfrentadas pelos praticantes. Desde a falta de transporte até a ausência de equipamentos adequados, ele chamou atenção para a importância de políticas públicas estruturais. Ele defendeu a criação de um Centro Municipal de Treinamento para artes marciais, semelhante às quadras poliesportivas. “Muitas vezes o aluno treina na academia, mas nem sempre ela estará aberta para que esse aluno possa praticar em determinados horários e dias. Um centro de treinamento estaria dando oportunidade a esses atletas de ter mais um local apropriado para ele treinar, assim como existem as quadras poliesportivas”, sugeriu.
Com enfoque na inclusão, a presidente da Associação de Pais e Amigos do Autista de Alagoinhas, Mayara Pinto, destacou a urgência de se garantir o acesso das pessoas com deficiência ao esporte, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade social. Segundo ela, 90% do público atendido pela instituição vive em condições tão precárias que sequer consegue pensar em atividades esportivas. “
Essas crianças muitas vezes não têm nem o que comer, quanto mais acesso ao esporte, que trabalha não só o motor, mas também o psicológico”, afirmou. Mayara elogiou a proposta de centros de treinamento com foco social, ressaltando que isso pode abrir portas antes completamente fechadas. Ela também reforçou a importância da inclusão dos para-atletas e questionou como estão sendo feitos os acessos e adaptações para pessoas surdas, cadeirantes, cegas e autistas, além da capacitação dos profissionais envolvidos. Por fim, defendeu a ampliação do orçamento para o esporte em 2026, alertando que o atual é insuficiente para garantir o direito ao esporte a todos.
Luciana Santos, mãe de Yan Santos Melo, atleta alagoinhense de 15 anos, campeão mundial de karatê pela ITKF GLOBAL, narrou o descontentamento com a falta de apoio e reconhecimento por parte da prefeitura, em comparação com outras cidades, que já contam com o Bolsa Atleta. “Os atletas de outros municípios, quando retornam das competições, possuem orgulho de mostrar a bandeira de sua cidade”, declarou.
Em seguida, Yan foi homenageado recebendo a bandeira de Alagoinhas, para que leve às competições. “Esta entrega representa o início de uma organização que pretende alcançar estrutura, reconhecimento e valorização para todos os atletas alagoinhenses”, afirmou o vereador Thor de Ninha.
Após a participação do público, com perguntas à mesa, Thor de Ninha fez os encaminhamentos finais, considerando as conclusões acerca dos desafios enfrentados pelos atletas, alcançadas a partir do evento. Dentre elas, se encontraram: a necessidade de democratizar os recursos públicos; implementação do Bolsa Atleta até o mês de junho; modificar regras orçamentárias atuais a fim de apoiar viagens dos atletas; instalação e um centro público de treinamento; divulgação os atletas-talento; atenção aos atletas não-ranqueados; buscar incentivos para as empresas patrocinarem atletas; transparência no critério do Bolsa Atleta; e celeridade na alteração da lei do Conselho de Esporte.
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FONTE:
Ascom – Câmara Municipal de Alagoinhas